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Portugueses na Diáspora

Cidadãs e Cidadãos portugueses emigrantes, migrantes, destacados, expatriados. Não somos cidadões, mas cidadãos de pleno direito e exigimos não-discriminação legislativa-regulamentar-administrativa

10 de Junho de 2016 em Paris: um evento serendipidado ?

11.06.16

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É caso para dizer que todos os caminhos vão dar a Paris, França. Sejam os caminhos da emigração portuguesa (a pé, e de comboio, no passado, e de avião low cost nos últimos tempos), sejam os caminhos dos dois actuais mais altos responsáveis pela nação portuguesa, sejam os caminhos do Euro 2016. Todos ali convergem.

 

Excelente que os nossos dois mais importantes governantes tenham ido a Paris celebrar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. Excelente que PR e PM portugueses tenham homenageado e reconhecido solenemente, em solo gaulês, o papel e o contributo das obreiras e obreiros emigrantes portugueses na construção da sociedade francesa, incluindo o seu comportamento solidário, fraterno, digno e valoroso em momentos de grande dificuldade da vida colectiva daquele país. A todos nós nos caíu bem. Excelente operação de charme. Excelente igualmente a operação diplomática e a solidariedade franco-portuguesa em assuntos orçamentais europeus. Excelente que os emigrantes enganados e lesados pelo BES se tenham manifestado no dia 10 de Junho, em Paris, junto do PR e do PM portugueses, e que a sua mensagem tenha sido levada em conta. Excelente que PR, PM e toda a comitiva tenham afirmado que o estado português vai apoiar os emigrantes portugueses. Excelente também que a Federação Portuguesa de Futebol tenha corrigido a ignorância dos marketeers que para ela trabalham. 

Não somos apenas 11 milhões de portugueses. Mormente na era da globalização e da austeridade, os nacionais de um país não vivem apenas nesse país. A emigração existe e contribui para a economia nacional com as remessas das suas poupanças, actualmente em cerca de 2% do PIB. Aos cerca de 2,8 milhões de portugueses nascidos em Portugal e residentes cá fora temos ainda que contabilizar os lusodescendentes, também eles portugueses.Todos eles apoiam a selecção nacional portuguesa de futebol no Euro'16, e por ela se deslocam e se manifestam. )

Excelente as simpáticas mensagens que nos endereçaram o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca,  e o Secretário de Estado norte americano, John Kerry.

Excelente, excelente, excelente !

Sente-se subitamente uma boa onda na relação tradicionalmente tensa e frustrada entre portugueses residentes no estrangeiro e dignitários da república portuguesa. Pressente-se da parte destes últimos uma nova atitude, positiva, séria e profissional de representante para com representado, uma atitude de respeito, e de consideração pelos nossos problemas (grande parte originados por incumprimentos constitucionais do próprio estado português, que a lei penaliza).

Esperemos que tenha caído em desuso aquela postura de contínuo desinvestimento, aquele desdém afectado e aquele discurso bacoco com que amiúde durante os últimos 50 anos nos brindaram os nossos políticos e governantes portugueses, sobretudo aqueles com quem todos nós mais contacto temos, por via das circunstâncias. 

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 Terá esta boa onda, que se sente no cosmos da emigração portuguesa, alguma coisa que ver com "serendipidade" ?   Terão os nossos dois expoentes políticos  a mente preparada e aberta para as múltiplas possibilidades de solução que a grande maioria dos problemas oferece, desde que encarados a partir de outros prismas e pressupostos?  Emergirão emoções positivas de auto-confiança que por sua vez darão azo ao engenho, arte e bons resultados?  

Haverá finalmente respeito pelas necessidades civico-políticas dos portugueses residentes no estrangeiro?  Teremos a reabertura de consulados? Voltará o Ministério da Educação a ocupar-se do ensino da língua portuguesa para os filhos dos emigrantes portugueses?

Serão as palavras ousadas e provocadoras do nosso PR indício ou vaticínio de desempenho para a Selecção das Quinas?  

E relativamente aos emigrantes portugueses lesados pelo BES, será imaginável um acordo político nacional a seu favor, e já que o houve também para os lesadores, uma vez que foram pressionados e enganados pelos directores de agências BES nos seus torrõezinhos natais a transferir as poupanças de uma vida para falsas contas a prazo, confiando no sistema bancário nacional? Que sinal dará Portugal à futura captação das remessas dos emigrantes e dos investimentos directos dos lusodescendentes em terras lusas (IDE)?  Quanto pesa o resgate one-off destes clientes do BES em comparação com a entrada de remessas todos os anos na economia portuguesa?  Em 2015 as remessas de portugueses residentes no estrangeiro ascenderam a 3.314 milhões de euros, digamos que pagou a factura do resgate do Banif.  Deste montante, 1.033 milhões foram enviados pelos portugueses emigrados em França.  Desde 2013 as remessas têm vindo a diminuir. Os emigrantes, escaldados, afastam-se dos bancos em Portugal.  Acresce a insatisfação com o desinvestimento nos serviços oficiais para os portugueses no estrangeiro(consulados e aulas de português), obrigatórios por lei, desinvestimento este que é inversamente proporcional ao aumento da emigração. Prevê-se que a tendência de queda da entrada de remessas continue, sobretudo agora com a má situação financeira de Angola.  Que sinal pretende então Portugal enviar? Inclusivamente àqueles novos emigrantes maciçamente forçados a saír nos últimos quatro anos? 

 

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10 de Junho de 2016 em Paris: um evento serendipidado ?  Esperemos que sim, para a Selecção e para a Emigração !

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Esperemos que sim, pois isso significa qualidade, inovação, ponto de viragem, percepções inovadoras, progresso, comunicação, convergência de vontades, resultados satisfatórios.  E se assim for, então é caso para dizer, tal como Josephine Baker, "J'ai deux amours, mon pays et Paris"

http://www.ina.fr/video/I06278690

 

 

 

 

Lídia Martins

(emigrante portuguesa na Bélgica)